9 de dezembro de 2005


Do vidro ocelar
vê-se o mundo baço com
as gotas de mar.

23 de agosto de 2005


Volta e meia, volta
a meia volta da vida
para revoltar.

Nas entranhas, essa
ânsia estranha de acabar
é revés da vida,

é a nostalgia da lama
dos exilados do mar.

21 de agosto de 2005


Questão para mim
é vender ou viver na
torre de marfim.

18 de agosto de 2005

Musa


Querida quimera,
escrevo pra me inspirar
com o que já era.

12 de agosto de 2005

Dedos do relógio,
que dão corda para a aorta,
que fiam o fio

finito (Moiras do agora),
redigem o necrológio.

10 de agosto de 2005

Haicai português


Vero porto é o mar.
O fado toca o barco e o
fado é navegar.

9 de agosto de 2005


Folhear qualquer verso
é esfolhar o belo dentre
ex-verdeadas folhas.

13 de julho de 2005


Surge da sucata
a delicadeza diáfana
da asa da barata.

Sempre atrás de mim,
caminha na distância um
anjo carmesim.

8 de julho de 2005


Doída água, mágoa
derretida, derramada
da sacada, pálpebra,

vertendo pela fachada,
transbordando pela cara.

4 de julho de 2005


Da pedra não vejo
o fundo, só vejo a onda
que quebra na pedra.

E da pedra, insubmisso, o
mar se estende ao infinito.

2 de julho de 2005


Assim como Endímion,
para sempre belo e jovem
porque para sempre

dorme a sonhar com o amor
da lua a lhe contemplar.

29 de junho de 2005


A sanha do sol
assolando a terra,
onde o corpo

animal, só e seco,
afinal se encerra.

18 de junho de 2005


Como nada em nada
o perplexo peixe prata
que está fora d’água.

se caminho ou não
passo as paragens passo a
passo em falso… fim

15 de junho de 2005


Vaivém da via
ambígua do olhar,
que traz o mundo

mas revela o fundo,
a ressaca da fossa.

13 de junho de 2005

Fim de tarde


Vermelha esfera
horizonte adentro
de outra era.

No olho uma sombra
que anuncia: breve, a chuva,
a água ferida.