22 de dezembro de 1998

Estrela da manhã


De manhã,
brilha a chama
no olho do

anjo caído
aqui por dentro,
que é choro de
saudade das
asas que pensa
já ter, um dia,

possuído.

12 de agosto de 1998

Meio-fio


caminha na calçada alada ao lado da
      vertigem via pavimentação

o estrépito volante de carros roda o
      rumo contra a suposta direção

28 de junho de 1998

PORTOCARRERO, Herman. Agnus Purus

Imaculado cordeiro
branco, a faca carniceira
não hesita ao golpear
tua garganta. Enquanto cantas
teu balido de suplício,
esguicha do precipício
das tuas entranhas teu
sangue como chama, como
sol na noite da aflição.

Meu querido amigo,
nunca quis contar as horas
que passei contigo.

12 de maio de 1998


Eu lhe deixo aqui
uma margem
                     para o que
eu nunca escrevi.

15 de fevereiro de 1998

Pelo eco do grito
faço idéia do fosso
em que me precipito.

14 de fevereiro de 1998

Órbita osculatriz

Nunca te beijei.
Sendo assim, fiquei
com milhões de beijos
em torno de mim,
órfãos e fiéis
como os anéis
do sombrio Saturno.

11 de fevereiro de 1998

Enquanto metade fica
a outra pula o muro.
Eu vou pelo escuro.

31 de janeiro de 1998

Submerso

Eu imagino um mundo submarino,
sub-reptício sob a superfície,
onde se afogam a noite e o dia e é
supérflua toda poesia; onde cavalos
pastam em esmeralda flutuação sobre
as estrelas espalhadas pelo chão.

29 de janeiro de 1998

Da razão da chuva

Passou a noite contando
todas as estrelas que
podia pois vinha o dia,
mas exausto, adormeceu;
veio a luz e lhe cobriu.
E assim que o errante céu
reparou, compreendeu
choveu.
Quando amanheceu,
todo mundo era contente.
Nunca aconteceu.