21 de julho de 2016

[à tarde no bosque]

à tarde no bosque 
o sol transverso nos troncos 
penteia a clareira

[o rio rebola]

o rio rebola
entre o sinuoso ventre
de areia da orla

[mordida do vento]

mordida do vento
a folha enlevada valsa
despida de verde

[O coco na areia]

o coco na areia
um olho vidrado no
vaivém da palmeira

14 de julho de 2016

[Fome do urubu]

Fome do urubu
pousado na cruz, pousada
de quem não é mais nada.

4 de setembro de 2013

Inverso

Plante seus pés nesse céu,
chão de nuvens impalpáveis.
Palma, do pé; planta, mão.
Passeie junto com as aves.

11 de agosto de 2013

Réquiem

Um vaso na sala,
adubado pelas cinzas
de trinta mil dias.

Os restos de meu pai, horta
onde brota um pé de mim.

17 de maio de 2012

[chorar e sumir]

chorar e sumir
pela porta do possível
viver a sorrir

17 de julho de 2010

Caronte

Morto barco de lodo,
resto de sangue e fogo,
por que surgir do fundo?
Navegará qual rio
senão este, de choro?
Içará qual farrapo?
Que rota, que caminho
intenta assim, tão roto?
Haverá qualquer porto
(ou mar sequer) além
da areia deste corpo?

26 de maio de 2010


      a Ana, de aniversário


Esse nosso amor faria
até mesmo um deus sonhar
com um deus que lhe daria
o nosso jeito de amar.