24 de agosto de 2025

Viu o rosto azul
(uma barba), a vista rútila.
Desviou-se lívida.

10 de junho de 2025

Tábula rasa

Olha só este soneto
pendurado na parede!
Num quadrilátero branco
é uma janela pro nada.

A palavra – é nada? E mesmo
morta, a celulose, sede
dos desarvorados traços
que jamais folheará,

(já que aqui jazem, pendentes)
não guarda sequer qualquer
abstrato grão? Semente

que talvez prepare para
alguma especulação
que poderá ser sua cara?

21 de dezembro de 2024

Se a rua rói ratos,
as casas consomem homens.
Vida se devora.

20 de dezembro de 2024

Marcador da página,
caiu das folhas a lâmina
retalhando o ar.
leve-me pra longe
disse a árvore pra sua
folha seca e leve
eu procuro ver
dentro de você o mar
mais verde que o nada

10 de dezembro de 2024

Cicatriz

Na carne a sombra do vidro,
resto de dor e vertigem.
Será que a linha é aviso?
Uma mensagem da origem
(algo que canta do abismo)
que corta a pele e se perde?
Uma voz do osso, um eco
que se destina à ruína?
Mora em casa uma esperança
de não ser casa, ser via.
A seta aponta a saída.
"não é grande coisa"
levanta com todo o peso
sobre as próprias costas
o morto é uma pedra
o vivo dança no vento
e assim vira o mundo
Depois do silêncio,
da prece, desaparece.
Só resta uma pele.